Startups em tempos do cólera: a crise emocional do empreendedor


Por Haroldo Torres
A crise política, econômica e ética na qual vivemos afeta profundamente o mundo do empreendedor – aliás, como a tudo mais no país. Não podia ser diferente. A renda dos consumidores cai; a taxa de juros elevada torna o ambiente mais hostil; o capital investidor escasseia. E, pior, todos ficam mais desconfiados e inseguros, pensando três vezes antes de fechar negócios.
É verdade que os empreendedores estão habituados a correr riscos e os projetos mais inovadores emergem de condições adversas. Por isso mesmo, o ecossistema empreendedor está vivo e cheio de gente energética tentando desbravar novos caminhos neste momento paradoxal em que vivemos. Mas é também verdade que os desequilíbrios externos mexem com os ânimos: tenho percebido um número maior de propostas sendo interrompidas por motivos econômicos ou devido à emergência de crises pessoais, transtornando projetos que pareciam sólidos há algum tempo.
Na esfera pessoal do empreendedor, empreender sempre será muito difícil. Dois empreendedores que conheço, por exemplo, trocaram recentemente os próprios projetos promissores por empregos no mundo corporativo. Estão errados? Não dá para julgar. Como recusar uma proposta de emprego que poderá dar estabilidade à vida pessoal por alguns anos? Muitos diriam que isso é a coisa sensata a fazer no momento em que vivemos.
Em outros casos, a crise individual é ainda mais dramática, levando a dificuldades sérias no campo emocional. Conheço vários empreendedores (e seus colaboradores) que estão sofrendo com insônia e recorrendo a ansiolíticos. Será tão estranho assim? Afinal, quantas vezes ao olhar para o caixa sendo consumido rapidamente não ficamos a nos perguntar se o que fazemos não é uma loucura total e absoluta?
Enfim, ser parte de projetos empreendedores supõe a convicção obstinada de que esse é o único caminho a trilhar. É preciso cultivar a resiliência e a capacidade de se adaptar ao imprevisto. Porém, mesmo as certezas mais profundas podem ser abaladas em tempos difíceis. Nessa hora, são as crenças essenciais por trás do que fazemos que nos levarão a seguir em frente.
Sim, é possível empreender em tempos de crise. Mas é preciso mobilizar as energias pessoais mais intensas e,  também, combinar com a família: afinal, não queremos que nossos filhos e cônjuges sejam vítimas da nossa saudável insanidade.
(*) Haroldo Torres
Economista, mestre em Demografia e doutor em Ciências Sociais. Foi bolsista do Harvard Center for Population and Development Studies durante o doutorado; é pesquisador-sênior do Centro Brasileiro de Análise de Planejamento (Cebrap). Torres atua em projetos de monitoramento e avaliação de políticas sociais nas áreas de transferência de renda, vigilância epidemiológica, educação, nutrição, habitação, saneamento e desenvolvimento regional; tem colaborado regularmente com agências multilaterais, empresas, ONGs e diferentes agências públicas federais, estaduais e municipais no Brasil. Haroldo Torres é coautor do livro Captação de Recursos para Startups e Empresas de Impacto”, lançado em novembro de 2015 pela Alta Books.
Fonte: 
Printec Comunicação www.printeccomunicacao.com.br
Betânia Lins -Vanessa Giacometti de Godoy

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